quinta-feira, junho 09, 2005

Cap.VIII - A Chave

Podem ler o Cap.I em As Sombras e o Cap.VII em Cartas de Amor e Ódio.


Mesmo sem saber para onde tinha ido, como tinha e porque tinha desaparecido aquela mulher que o trazia enfeitiçado, conseguiu, todavia, ter o discernimento suficiente para perceber que de nada valia procurá-la...ela era uma mulher estranha, misteriosa, que o deixava tonto só de a imaginar...que aparecia e desaparecia a seu bel prazer, como se de uma feiticeira se tratasse...sentia-se perturbado, nada do que poderia pensar ou fazer naquele momento iria ter nexo.
O seu impulso foi, então, pegar na Caixa...queria abri-la, saciar a sua curiosidade e tentar perceber o que, afinal, se estava a passar ali. Ele não podia estar louco...aquela mulher curvilínea era real demais...e a Caixa estava ali, bem diante dos seus olhos...intacta...intocável...imaculada...
Sentou-se na cama ainda quente, afagou a colcha ao de leve, como que adivinhando os contornos de Júlia na cama vazia, pegou na Caixa e pousou-a no colo.
Ainda pensou se estaria a agir da forma correcta...se seria justo e, até, seguro aquilo que estava prestes a fazer. Júlia havia confiado em si...sentia-se um traidor. No entanto, depressa as suas questões existenciais perderam toda e qualquer razão de ser. Algo de muito mais estranho do que a simples Caixa se encontrava diante dos seus olhos: em vez de uma fechadura banal, aquilo que via era, em tudo, mais semelhante aos contornos do símbolo estampado no cartão que o homem vestido de preto lhe entregara.
O medo assolou-o. Mas a sua imaginação disparou... O que seria "aquilo"? Que espécie de "chave" poderia abrir algo assim?...
Vieram-lhe então à memória os seus tempos de menino, ainda em Tondela...se sempre brincara com Legos, não lhe haveria de ser difícil arranjar uma forma de abrir a Caixa.
Deitou-se para trás, fechou os olhos para tentar arranjar uma solução e o cansaço acabou por vencê-lo...adormeceu.
Já de madrugada acorda assustado, com o Faísca pulando em cima da sua cama, de trela na boca, abanando o rabo, latindo, pedindo para ir à rua. Estremunhado e amarrotado, levantou-se, calçou os chinelos e resmungou para o seu amigo de quatro patas: "_Agora, vê se te orientas aqui pelos canteiros do quarteirão...não me vais fazer andar por aí a esta hora...ouviste bem?"
Ao sair de casa, numa visga dos paralelos da rua, reparou num rolinho de papel...mas o Faísca já ia por ali fora, todo satisfeito, nem permitindo que Pedro desse muita importância ao "achado", o que não deixou de fazer com que o mesmo o intrigasse...
De regresso, já com o Faísca em sossego, reparou no mesmo rolinho. Parecia ter sido enrolado de propósito, com cuidado, com preceito, mas alguém o havia deixado cair...era óbvio. Baixou-se, desentalou o rolinho da visga dos paralelos e achou que devia ver do que se tratava para, eventualmente, poder devolver ao respectivo dono.
Mas Pedro não parava de ser surpreendido...e o destino pregava-lhe partida atrás de partida. Ao desenrolar o rolinho, deparam-se-lhe dois bilhetes de avião.
Destino: Nova Zelândia.
Titulares: Hilário Joaquim Tinoco e Margarida Henriqueta Pires, nomes que lhe pareceram demasiado familiares...por outras palavras, o inspector Tinoco e a Margarida do talho.
E...um carimbo com o símbolo que mais o assustava nas últimas horas: o da Espiral.
E, agora, continuem a seguir a história com o Cap.IX em Comufo.